O mais inclassificável dos livros, Assim Falou Zaratustra, agora em nova tradução de António Sousa Ribeiro, é um dos expoentes do gênio humano. Algures entre o tratado filosófico, o poema, o texto sagrado e a tragédia, este é um livro sem par na história da literatura e da filosofia. Sobre ele, a filósofa Sofia Miguens escreveu: "Falando através da voz de Zaratustra, Friedrich Nietzsche clama: Acordem, ó homens! Acordem para aquilo que eu, o porta-voz da vida, o porta-voz do sofrimento, vos digo! E o que Nietzsche vem dizer é que a realidade não é racionalidade, mas vontade de poder, que os homens sofrem com a vontade de criação, mas que essa vontade pode chegar a querer-se a si mesma, pode chegar a querer o Eterno Retorno, pode chegar a querer exatamente aquilo que é. Esse pensamento do Eterno Retorno só poderá, no entanto, ser pensado pelo Übermensch, o super-homem, aquele que superou o homem porque sobreviveu à Morte de Deus, i.e., à constatação da ausência de qualquer finalidade moral para o Universo e para a vida. O super-homem sobreviveu à Morte de Deus e sobreviveu também ao niilismo passivo, à vontade de nada como vontade de extinção. O seu niilismo tornou-se um niilismo ativo, diferente do desejo schopenhaueriano de dissolução e de morte, vistas como a única cura para a individuação. E assim, na imagética de Assim Falou Zaratustra, o espírito, na sua vida sobre a terra, deixou de ser o camelo, que carrega, deixou de ser o leão, que reage violentamente e quebra amarras, e passou a ser a criança – a leveza da existência e o "Sim" à vida."