Talvez se possa dizer que a originalidade e a potencialidade de um pensador está em colocar o próprio tempo em pensamento. Agamben, homem do século XX, desenvolve a intensidade de suas reflexões na segunda metade daquele século, marcado pela experiência do pós-guerra, pela violência perpetrada nos campos de concentração e, diante de tais situações, procura diagnosticar e compreender as intrincadas relações que se estabelecem entre política, direito e economia. “Política, economia e direito se dissolvem no movimento de um caleidoscópio incoerente e multiforme” (NASCIMENTO, 2012, p. 105).
O empenho compreensivo do que está acontecendo requer a constituição de uma ontologia do presente. Tarefa exigente por decorrência de um tempo em movimento, em certos contextos assistemáticos, manifestando o esforço do pensamento compreensivo por deslocamentos conceituais e teóricos. Em determinadas situações investigativas requer-se um retorno (genealogia) as categorias conceituais a partir das quais o Ocidente estrutura a dinâmica da política, da economia e do direito na contemporaneidade. É preciso investigar nos arquivos civilizatórios ocidentais (arqueologia) em busca dos conceitos e práticas consolidados e transformados em paradigmas civilizatórios. Estes intrincados movimentos colocados em curso pelo pensador italiano na composição de suas obras podem nos ajudar a compreender a (des)ordem aparente das publicações que compõe a obra Homo Sacer.
Sandro Luiz Bazzanella