Um clássico perturbador da literatura japonesa Desde a morte de sua esposa, há sete anos, o documentarista Aoyama não namorou mais ninguém. Um dia, até mesmo seu filho adolescente, Shiguehiko, sugere que o viúvo de meia-idade se case de novo. É então que seu melhor amigo, o produtor de TV Yoshikawa, propõe um plano equivocado: realizar testes para um filme que pode nunca vir a existir, mas que também pode transformar a vida de Aoyama e quem sabe ajudá-lo a encontrar o seu futuro amor. Entre as milhares de candidatas que se inscrevem na audição de elenco, Assami Yamassaki, uma ex-bailarina, é quem desperta algo no coração adormecido de Aoyama, não só pela sua beleza, mas sobretudo por compartilharem a mesma opinião sobre luto e aceitação das dores da vida. Apaixonado pela natureza frágil e pelo sorriso nervoso de Assami, Aoyama ignora seu crescente sentimento de desconforto e advertências dos amigos e entrega-se aos deleites da fantasia com a jovem cercada de mistério. O tão desejado relacionamento amoroso parece florescer quando ele se coloca na fronteira do perigo e do prazer, mas, nessa trama em que a razão é obscurecida pela compulsão, as consequências são imprevisíveis. Em Audição , Ryu Murakami apresenta seu romance mais perturbador, ambientado na cidade de Tóquio na década de 1990, e mostra por que é considerado o mestre do psycothriller no Japão. O autor japonês começou a publicar romances nos anos 1970, mas foi a partir do início deste século que sua crítica ao mundo pós-moderno começou a ganhar atenção no Ocidente, sobretudo por abordar o custo cultural e psicológico da modernização do pós-guerra. Haruki Murakami — considerado um dos autores mais importantes da atual literatura japonesa, com obra premiada e traduzida para mais de quarenta idiomas — é um grande admirador da obra de Ryu, admite sua influência direta e também ressalta a sua voz transgressora para a literatura japonesa contemporânea. Publicado originalmente em 1997 e definido pelo escritor escocês Irvine Welsh, autor de Trainspotting (1993), como “uma parábola do medo masculino diante da sexualidade feminina”, Audição aborda temas relevantes como misoginia e objetificação das mulheres na sociedade japonesa e ganhou uma elogiada adaptação para o cinema em 1999, dirigida pelo diretor Takashi Miike. Entre a paranoia e a realização dos desejos mais abjetos e recônditos que habitam a alma humana, Audição abala profundamente nossa zona de conforto e nos leva a questionar os limites do aceitável, ao mesmo tempo em que nos convida a lançar novos olhares para a dimensão mais profunda de nossa estrutura mental e psíquica. Ninguém sai ileso desta obra-prima de Ryu Murakami . Um romance poderoso e transgressor capaz de mostrar em linhas tortas a faceta mais sinistra do amor.