As navegações portuguesas que resultaram não no descobrimento – pois nada estava encoberto para quem já habitava aqui – mas na invasão e exploração dessas terras promovem os primeiros encontros culinários brasileiros: as galinhas, a farinha de trigo, as especiarias, vinhos e azeites, trazidos nas caravelas, combinam-se à mandioca e aos feijões cultivados pelos nativos de Pindorama. E a partir do plantio de cana-de-açúcar, mais um ingrediente incrementa o conflito já instaurado na colônia: a escravidão. Negros africanos, indígenas e portugueses convivem, em posições desiguais, no mesmo território; aí, então, a colonização se intensifica e inaugura, também, novas iguarias brasileiras, como os doces feitos com amendoim e as cachaças. Neste livro, conta-nos histórias brasileiras, através de canções e tradições alimentares. Pois, apesar dos pesares, tais encontros que formaram e fazem o Brasil, criam beleza através de ritmos próprios: forró, samba e bossa nova, tropicalismo, rock e músicas de protesto dos festivais, folclore e festejos populares (carnavais, boi-bumbá, bumba meu boi, maracatus)... E nesses ritmos evocados no livro, o velho provérbio se confirma: quem canta seus males espanta – e não faltam males assolando Pindorama, a antiga e edílica terra sem males, outrora celebrada pelas etnias nativas.