O Banquete dos Anjos, de Regina Vieira, segue a linha da narrativa-depoimento que consagrou o Filho Eterno, de Cristovão Tezza. Explicitamente autobiográfico e confessional, o livro tem propósitos outros que não o de reunir contos sobre escola, só para usar um título machadiano. A autora é clara: quer fazer uma denúncia social, mostrar o quadro da educação municipal na cidade do Rio de Janeiro, entre 1974 e 1992. Um quadro, que, a bem da verdade, permanece o mesmo, embora os cargos de prefeito e de secretário de educação tenham sido ocupados por políticos e técnicos distintos. Registrado em cenas e casos inesquecíveis, o texto, econômico quase crônicas , possui clareza sintática e beleza técnica, conferindo, à narrativa, equilíbrio, segurança e elegância, mesmo quando a emoção cruel da situação existente entre os personagens, professora versus alunos, a faz exibir uma fotografia mais crua e real da persona professora, o que, na verdade, ela nunca deixou de ser. Regina Vieira se expõecomo escritora, retratando, sem qualquer pudor, suas experiências. Sentimentos muitas vezes contraditórios, de raiva e compaixão; de amor e ódio. Neste livro, os 14 contos, com unidade interna, formam um conjunto harmônico e bem acabado, narrados com graça e leveza, sob pano de fundo social e plenos de humanismo. O Banquete dos Anjos deveria ser adotado por todas as escolas públicas de ensino básico, e ser lido por alunos, pais e professores de todo o Brasil. Apresentado por Marcus Vinicius Quiroga, Tanussi Cardoso e Cairo Trindade.