Barras assimétricas reúne 31 contos especialmente bem escritos e com tons de narrativa diferentes, e todos eles prendem a atenção do leitor. Já no primeiro deles, “Armas não letais”, José Fernando Guedes se revela de uma ousadia tremenda: a narrativa é toda feita em voz feminina. E consegue o que poucos autores conseguiram: ser convincente. Ouve-se cada palavra com nitidez, e não há dúvidas: quem conta a história é uma mulher. No segundo, “Fim”, o que encontramos é uma brutalidade sem tamanho, mas narrada em tom quase coloquial, como se fosse a coisa mais natural do mundo. “O vigilante”, uma quase crônica, um relato em tom banal – intencionalmente banal – do ponto em que pode chegar a miséria humana. Pode oscilar entre descrever imagens como se fosse uma reportagem para de repente o narrador mergulhar num poço de reflexões, como em “A borboleta”. Ou se arriscar de novo na narrativa em voz feminina, como “O nome mais bonito do mundo” – nome, aliás, que não ficamos sabendo qual é.
Segundo Eric Nepomuceno, “dizem que William Faulkner disse que a poesia é o nível mais alto da palavra escrita, e que escrevem romances e novelas os autores que não têm voo e grandeza suficientes para escrever contos. Pois bem: José Fernando Guedes já havia deixado claro que alçou voo com os poemas de Revoada, O mar, Sobrevoo ou A pedra de Judas. Mirou alto e acertou em cheio no delicado, complexo e difícil ato de escrever poesia. Agora se lança em outro desafio: mergulhar nos contos. E, de novo, acerta em cheio. José Fernando Guedes deixa claro, sem espaço para nenhuma dúvida, que saiu-se especialmente bem no desafio imenso que é entrar no difícil terreno dos contos”.