Um antídoto bem-humorado para a pretensiosa conversa oca que hoje se escreve sobre o vinho e uma profunda apologia à bebida sobre a qual a civilização foi fundada. Os antigos tinham uma solução para o problema do álcool: envolver a bebida em rituais religiosos, tratá-la como a encarnação de um deus e marginalizar o comportamento destrutivo como obra do deus, e não do adorador. Uma boa artimanha, pois é bem mais fácil reformar um deus do que um ser humano. Mas a solução religiosa não foi a única registrada: em vez de excluir da sociedade a bebida, os gregos construíram um novo tipo de sociedade em torno dela. Nos banquetes, eles descobriram o costume que revela o melhor do vinho – a bebida que nos leva a sorrir para o mundo e faz o mundo sorrir para nós. Quando consumido de forma adequada, o vinho melhora o convívio humano e tem o poder de colocar o amor e o desejo a uma distância que os torna passíveis de ser discutidos. Quando consumido socialmente, durante ou depois de uma refeição, um bom vinho deve ser acompanhado de um bom tema de conversa, tema que deve perdurar juntamente com a bebida. O vinho é algo com que se vive de acordo, e também se vive de acordo com uma ideia. Bebido na ocasião certa, no lugar certo e na companhia certa, o vinho é o caminho para a meditação e o arauto da paz. De acordo com Scruton, o vinho, bebido no estado de espírito certo, é definitivamente bom para a alma. E não há melhor acompanhamento para ele do que a filosofia. Ao pensar com o vinho, aprendemos a beber em pensamentos e a pensar em goles.