A constatação de que a Bioética, concebida como campo interdisciplinar do saber, trata de questões que a rigor lhe antecedem em nada desabona sua atualidade e originalidade, principalmente em virtude de a nossa época caracterizar-se pelo quase completo desacoplamento entre a imediaticidade do viver - conduzida pela satisfação, exaurida em si mesma, de necessidades que se reproduzem, de modo irresponsável, em um fluxo incessante, condicionado pelo ininterrupto progresso das tecnociências – e a perenidade da vida - em cujo encadeamento a geração atual e as vindouras possuem direitos idênticos à existência. Em síntese, diante da sujeição da vida ao viver, do esgotamento do devir no presente, a Bioética legitima-se, hoje mais do que nunca, como ciência que pleiteia a reconciliação entre as dimensões temporais do existir, a reaproximação, em torno da unidade do desígnio que define a prática humana, entre ética e técnica, ou seja, entre interação social não deturpada e relação consequente com o natural. Este é o desafio que concerne à contemporaneidade. Postergar o seu enfrentamento significaria um passo adiante na admissão da irreversibilidade do vigente.
Cada qual à sua maneira, os escritos aqui reunidos - que versam sobre Bioética e Fundamentação Teórico-Filosófica; Educação e Formação em Bioética; Bioética, Direitos Humanos e Questões Jurídicas; Bioética e Teologia; Bioética e Ciências Humanas; Bioética e Ciências da Vida e da Saúde - participam deste esforço de transformação.
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