Um botequim prestes a fechar as portas com frequentes visitas da morte, narrado como uma espécie de portal onde os frequentadores entram em contato com o seu mundo interno, ativando impressões e memórias de um espaço (des)conhecido, que não fosse por esse portal nunca seria ativado. As distâncias, primeiro narradas como morte, depois como símbolo de margem, periferia e encontros. Marcos Pereira de Mello, no seu novo romance “O Botequim das Distâncias” escreve a partir das ausências. Escolhe a 'morte' para narrar a vida. As cadeiras de um botequim que vão sendo desocupadas entendidas como analogia às cadeiras da Academia Brasileira de Letras, onde os bêbados/escritores, que as ocupam, têm como livro, como sua “obra magistral”, a própria existência. Poderia mesmo dizer que o autor cria uma Academia Suburbana da Cachaça, daqueles que parecem estar à deriva, ou que passam este tipo de sensação, mas não, cada um dos personagens apresentados escrevem suas vidas com um destino único, a ausência como presença. O narrador convida o leitor e juntos vestem o luto que nos traz vida, como se as mortes fossem um preenchimento para outras histórias. Com vontade de refletir com narrador do romance quando diz: “Embora uns pulem o desviver, já que a marcha do tempo é para o tipo a passar pela vida, contrário daquele cuja morte liberta, existe de trás pra frente, mais próxima a morte, mais vivo.” Os convido para que juntos e vivos atravessemos o portal da ficção e da realidade e entremos na essência de ser no mundo e percebamos que a ternura pode estar nas distâncias de um botequim próprio.