Dois intelectuais com trajetórias pessoais muito diferentes influenciaram decisivamente os rumos do Brasil na segunda metade do século XX. Um - San Tiago Dantas foi civil, professor, diplomata, considerado de esquerda e integrou o ministério do presidente João Goulart, derrubado em 31 de março de 1964. Outro - Golbery do Couto e Silva - foi militar, considerado de direita e também ministro, mas do regime que se seguiu à deposição de Goulart. Ambos dedicaram-se, como poucos, a estruturar o pensamento estratégico brasileiro e a moldar uma resposta nacional brasileira aos desafios da ordem mundial do segundo após-guerra. "Nas décadas de 1950 e 1960", diz Severino Bezerra Cabral, "ambos representaram o que havia de essencial no consenso de base do pensamento político-estratégico nacional, orientado para a criação de um Brasil moderno, desenvolvido e industrializado. Mais ainda, foram desafiados a pensar, ao mesmo tempo e numa mesma clave, o ser nacional brasileiro e o seu protagonismo mundial". Neste livro, as formulações de San Tiago Dantas e de Golbery do Couto e Silva servem de fio condutor para uma reflexão contemporânea sobre os mesmos temas, mas já no contexto posterior ao da ordem bipolar nascida na Segunda Guerra Mundial. Diante da tendência atual à formação de novos pólos ou centros mundiais de poder, Severino Cabral volta a questionar o lugar do Brasil. "Pode-se pensar que a União Européia e a Rússia venham futuramente a desafiar a ordem unipolar sob hegemonia norte-americana, constituindo-se como núcleos de futuros megaestados. Mas também, paralelamente, alguns estados em desenvolvimento, por sua extensão continental, força econômica e peso político crescente podem vir igualmente a tornar-se megaestados. No mundo em desenvolvimento, dois gigantes despontam como detentores dessas características: a China e o Brasil.