A filosofia e as ciências vêm se desentendendo sobre o conceito de realidade há pelo menos dois milênios e meio. Suas definições, sem mencionar as inspirações e visões das religiões e de suas teologias, têm mostrado ser um material bastante elástico e, no entanto, perecível, a tal ponto que todas as respostas dogmáticas ou relativistas continuam a caber de um modo ou de outro no campo semântico do que é real, na essência e na "realidade". Entretanto, na medida em que se pretenda basear-se na razão e nas experiências humanas, sem que se delegue à metafísica e às eventuais realidades extraterrenas a tarefa de preencher nas alturas o que não se consegue ver na materialidade que nos envolve e que também se nos propõe objetivamente aos sentidos e às suas extensões instrumentais - nessa medida as possibilidades de nosso conhecimento estão necessariamente ligadas aos subsídios que nos fornecem aquelas disciplinas que denominamos ciências. E é justamente com os pés nessa plataforma, não obstante o seu rigor, tão giratória que abriga diferentes pontos de vista sobre a sua natureza, que Mario Bunge se lança em seu livro à caça da realidade. Publicado, em português, pela editora Perspectiva na sua coleção Big Bang, tem-se aí uma verdadeira súmula desse corajoso enfrentamento do tema e de seus problemas. Abordando as controvérsias deflagradas pelas diferentes formas de antirrealismo, de Berkeley, Hume e Kant, passando pelos construtivistas e fenomenólogos, o autor vai esboçando - em contrapartida e em acirrada argumentação, munido de todo o cabedal da investigação moderna - sua própria versão do que seja o realismo, à qual dá o nome de hilorrealismo. Com clareza e sem subterfúgios, pois não tenta ocultar, sob essa máscara, o velho materialismo, lança à mesa de discussão a afirmativa de que as verdadeiras explicações das ciências esteiam-se nas leis causais e em mecanismos observáveis apenas indiretamente, sendo generalizações empíricas que requerem comprovação. Nessa exigência estão compreendidos todos os fenômenos, mesmo os subjetivos (como o medo e a ansiedade) e sociais. A ciência, portanto, tem de ser objetiva e a lógica deve prevalecer, não só em sua expressão formal como em suas derivações modais, não obstante o fato de que estas tampouco escapam incólumes à razão crítica e suas limitações devem ser detectadas e levadas em conta, na medida em que se queira dar primado à verdade como critério último do conhecimento na busca de uma ciência exata. G.G. e J.G.