“Há fronteiras nos jardins da razão”. Esse verso de Chico Science me chegou aos ouvidos pela cantora Daniela Mercury. A partir de então percebi com mais amparo que, mesmo dentro das equações mais complexas, há espaço para pincéis e aquarela. Em todo fazer racional ecoam liras e sorrisos. Em Caixa de Lápis de cor: crônicas para colorir a vida, você vai mergulhar no mundo de possibilidades dos textos genuínos. Genuínos porque inspirados na mais sábia das musas: a vida breve e estoica. A cada página lida, o contato com a natureza, consigo mesmo, o oposto, o diferente, o igual, a razão, o humor, a paixão… Darão as pistas necessárias para ladrilhar ruas e vielas esburacadas. Vai ser possível identificar nas linhas e entrelinhas o olhar para empreender o diálogo. A máxima de sua experiência com este livro será exercitar a engenharia dialógica das pontes, os pontos de intersecção indispensáveis à condição humana. Pouco teríamos evoluído enquanto espécie não fosse o olhar salvador da empatia, da gentileza. Ao término de sua leitura, na ordem e ambiência que lhe aprouver, sugiro uns minutos de mergulho no seu eu-criança, retome aqueles lápis de cor deixados no caminho, muitos sem ponta é verdade, mas agora recordados. Aponte-os com o cuidado que a sua paisagem merece e preencha ainda mais de cor os tons que as palavras tiveram o poder de sensibilizar. Eu sei que tem um quê de conselho nisso tudo. A bem da verdade, mesmo sem querer, ele acaba surgindo; quer seja como tijolo, pincel ou tinta. É fluido. Com o passar dos dias e para fins de levantar essa engenharia, você irá escolher o que porventura lhe falte. E se precisar de todos eles, pode ficar à vontade. É no exercício dialético da alteridade que o homem se faz melhor. A essa altura já não vai interessar se em você são os átomos da paixão ou da razão que se animam mais. Não é a dicotomia que move este universo todo. É o continuum.