Sua doutrina detestável da eleição divina torna inútil qualquer ação missionária ou evangelizadora. Se algumas pessoas estão predestinadas à salvação, então, por simples cálculo aritmético, as outras estão predestinadas à perdição e, como consequência, não é possível fazer nada a respeito disso. Nada poderia ser mais falso do que essas proposições sobre Calvino e sobre o papel da doutrina reformada na evangelização. Mesmo sendo verdade a forte insistência do reformador de Genebra na predestinação, muitas vezes se costuma esquecer que ele trouxe de volta à luz a responsabilidade do homem perante Deus — doutrina que não favorece a letargia nem o fatalismo. Se Calvino, o francês, se instala na cidade de Genebra, não é para se encerrar em uma cidadela inexpugnável, desempenhando o papel de um teórico ditatorial, como muitas vezes fomos levados a acreditar. Ao contrário, Calvino deseja encontrar um lugar seguro para formar uma “igreja estabelecida”, ou seja, não só um grupo de pessoas reunidas em torno do estudo da Bíblia — como ocorria naquela época e com muita frequência na França —, mas uma igreja com estrutura verdadeira e disciplina eclesiástica. E, a partir desse fundamento sólido, mediante a proclamação forte e diária da Palavra de Deus, contribuir da melhor possível para o avanço do reino de Deus e de sua glória. E a evangelização integra a vontade de glorificar o Deus três vezes santo em todas as áreas da vida humana. Para convencer-se disso é necessário apenas observar o número de alunos que passaram pela Academia de Genebra e os pastores treinados na pregação por Calvino e que mais tarde voltaram a França — às vezes arriscando a própria vida. Longe de favorecer o comportamento religioso defensivo, a Genebra reformada consistiu no ponto de partida do impulso prodigioso do anúncio do Evangelho na França, em toda a Europa e até além dela — impulso que levou à restauração cristã da cultura e à renovação de toda a sociedade