Por que escrever um livro de filosofia em torno da Legião Urbana? É apenas uma banda de rock, diriam alguns, com letras e arranjos simples, como tantas outras que surgiram no cenário brasileiro dos anos 80. Nada mais injusto. A aparente simplicidade da obra da Legião Urbana esconde diversas matizes e nuances. Enquanto os outros grupos da época se revezavam entre canções românticas ou canções de revolta, Renato Russo e sua trupe criavam sons híbridos poderosos, capazes de reunir na mesma levada, versos de amor e de protesto. Isso foi um das marcas da originalidade da Legião, capaz de, em um mesmo gesto musical, conectar o universal com o particular; o coletivo com o individual; o político com o afetivo; instâncias essas que a história do ocidente sempre insistiu em separar. Os 'Ensaios Legionários' propõem diversas chaves de compreensão das canções da Legião, percorrendo temas tão diversos, como complexos, tais como o tempo, o cotidiano, o amor, a existência, a sociedade de consumo, a solidão, os rumos do país, os impasses da arte, etc. Essas chaves de leitura não pretendem ser definitivas, nem esgotar o sentido das canções, ao contrário, elas servem muito mais para desvelar outras e variadas portas, que ainda precisarão ser abertas e exploradas.