Luiz Bernardo Pericás, historiador e autor do elogiado Os cangaceiros: ensaios de interpretação histórica (Boitempo, 2010), o qual recebeu menção honrosa do Prêmio 'Casa de Las Américas', de Cuba, retorna às livrarias com o romance Cansaço, a longa estação. Ambientado em um sertão imaginário, mágico e mitológico, em algum momento entre o final do século XIX e o começo do XX, o livro conta a história do único encontro entre Punaré e Baraúna, dois rapazes apaixonados pela mesma moça, Cicica. A partir daí, uma mudança radical ocorrerá na vida desses três personagens cansados do calor sufocante, da rotina de imobilidade, da falta de perspectivas, da opressão e do ambiente à sua volta (o próprio inferno). Em duas narrativas paralelas que aos poucos vão se enovelando uma na outra, Punaré e Baraúna comovem com suas inquietações e fantasias, um triângulo amoroso e dois olhares diferentes sobre a mesma realidade.Pericás presenteia o leitor com uma narrativa e linguagem próprias do sertão, cobrindo de estranheza e mistério a realidade. O vocabulário, explicado em um extenso e instigante glossário, é também um protagonista na ficção do historiador, que, imerso na experiência sertaneja e cangaceira, traz à tona um rico repertório de 'palavras reunidas num fraseado melódico ao mesmo tempo fluido e truncado como, de resto, é a vida no sertão', conforme explica no texto de orelha o professor de literatura brasileira e pesquisador da USP Flávio Aguiar. 'É uma viagem no espaço e no tempo, e também nos vários registros linguísticos de nosso país, em particular do seu mundo rústico. 'O universo sertanejo de Pericás está no agrume (aquilo que é agre, amargo), na garrucha (arma de fogo que se carregava pela boca) e na girumba (cachaça), entre tantas outras palavras de raiz popular que revelam a cultura e a história regionais. 'Ao final, se o leitor quiser, poderá comparar texto e glossário. Mas primeiro se deixe envolver pela prosa original e segura de Luiz Bernardo Pericás', aconselha Aguiar. As xilogravuras que ilustram a capa e o texto são de Fabrício Lopez.