O amor colocou-as no centro da revoluçao que derrubou 40 anos de ditadura em Portugal. E elas cumpriram o seu papel. Em casa, para que a liberdade chegasse à rua. Lutaram nas fileiras da conspiraçao, dando cobertura a reuniões clandestinas, passando à máquina manifestos, instigando a revolta ou simplesmente “assobiando” para o lado como quem nao vê o golpe em marcha. Esta é a história das mulheres dos capitães de Abril.
Dina Carvalho foi à guerra, soldado sem bala, com os três filhos à mercê de bombardeamentos. Ateou o mais que pôde o movimento dos capitães. Depois, ajudou Otelo a preparar o plano de operações – ela a tricotar no carro para ele tirar as medidas ao forte de Caxias. Natércia Salgueiro Maia passou a noite de 24 de Abril colada ao rádio. Tantas tardes, ela e Fernando a trautearam Zeca Afonso, e agora a cançao como ordem na parada. Pela janela, viu a coluna deixar Santarém. Teresa Alves tremeu a madrugada inteira, nao havia cobertores capazes de calarem o frio. A ironia da vida congelava-lhe as entranhas, era filha do Chefe de Estado-Maior da Armada e mulher de um dos líderes do movimento. Aura Costa Martins passou a noite no Mini do namorado, os dois às voltas pela cidade, granadas e uma metralhadora no banco de trás. Gabriela Melo Antunes, menina da fina-flor açoriana, andava nos escritos da PIDE, por comungar “dos ideais” do marido era suspeita. Esta é também a história da única mulher que leu um comunicado do MFA e da mulher que, sem saber, deu nome à revoluçao, com os seus cravos nos canos das armas. A jornalista Ana Sofia Fonseca, autora de Angola Terra Prometida, conta-nos a revoluçao dos cravos no feminino, com os seus heróis revelados na intimidade da família. Os momentos decisivos, a última noite, o primeiro dia de liberdade. Num país de homens, as mulheres dos militares de Abril lutaram com as armas que tinham. Sao personagens de um dos mais importantes acontecimentos do século XX português. Todas elas, cada uma à sua maneira, protagonistas n