‘A famosa citação - ora atribuída a Flaubert, ora a Mies van der Rohe - de que "Deus está nos detalhes" deveria servir como verdade oracular para todo caricaturista. Transformar o detalhe na verdade de uma fisionomia é o que dá graça ao traço e causticidade ao desenho de Loredano. Delirantemente precisa, sua linha evita o supérfluo e potencializa a surpresa. Desde meados da década de 1970, a caricatura de Loredano ocupa as principais páginas da imprensa internacional, mais especificamente os cadernos de cultura. São quase quarenta anos de sacerdócio à caricatura de jornal, de diálogo aberto entre linha, texto e página. Retirá-lo deste lugar, muitas vezes tenso e conflituoso, é excluí-lo de uma mundaneidade essencial, onde o aparecer do caricaturado se dá junto à notícia, ao texto, a todo tipo de interferência que atravessa e contamina sua fisionomia. A força dos desenhos de Loredano equivale a sua capacidade de fazer ver antes de ler e, assim, sugerir sentidos subliminares ao leitor. Virar uma página e se deparar com um desenho seu é fatal para o olhar: toda a página se desenha e se configura pela sedução e ritmo da sua linha. A caricatura nasce no intervalo entre a aparência pública e a fisionomia privada. Ela inventa a aparência e desloca a fisionomia. A caricatura obriga o olhar a perceber no rosto o que não está nele, mas que passa a ser percebido uma vez realizado o desenho, aderindo implacavelmente à fisionomia do retratado. Alguns "desenhos" de Loredano são definitivos, concebem um olhar e servem como uma espécie de cânone visual para futuros desenhistas. Quem quiser desenhar hoje um Walter Benjamin, um Machado de Assis, uma Clarice Lispector, um Fernando Pessoa não pode desconhecer e não se deixar influenciar, para o bem e para o mal, pelos vários já realizados por Loredano.’ Luiz Camillo Osorio, na Introdução deste livro Caricaturas de Loredano.