Em uma época como a que atravessamos, em paixões ruins têm infeccionado a sociedade; em que a inveja, egoísmo, ambição, soberba, hipocrisia, deslealdade, calúnia, traição e ingratidão, vão corroendo os sentimentos da alma, minando a nobreza de caráter; em que virtude é deprimida e o vicio exaltado, a probidade perseguida e o cinismo aplaudido; em que o justo e o honesto são quase palavras inúteis; em uma época de decadência, de crise, de anemia moral a toda prova, quer social, quer politicamente falando; em que se não levantam mais altares à justiça e só rende-se culto à ambição, à supremacia do Eu; em que a perversão de costumes e de senso moral parece querer tudo avassalar, espinhando o mérito e humilhando a verdade; em que subir, brilhar, refulgir aos olhos do mundo, não pelos sentimentos do bem, mas pela grandeza da posição, pelo fastígio da opulência, pela perturbação do ouro – é monstruosa e devastadora hidra que cegamente vai roendo consciências; em semelhante época, poucos, bem poucos são os que, conservando imaculados sentimentos de bondade, integridade, justiça e tolerância – predicados do caráter – ainda se lembram de ter existido em sua Pátria o grande vulto artístico conhecido pelo nome de Antônio Carlos Gomes, sagrado pelos povos de além mar! E muito menos dos que se recordam de ter ele morrido no dia 16 de setembro de 1896, em Belém, capital do Estado do Pará.