Nas tradições de inúmeras culturas, ao longo da história da humanidade, plantas psicoativas têm sido usadas para diversos fins em contextos sagrados, de cura e outros. Tais plantas, na modernidade, foram recuperadas para experiências sensíveis por parte de psiconautas, interessados em explorar seus efeitos bioquímicos e fisiológicos ou os estados místicos decorrentes da sua ingestão. É de maneira leve, agradável e bastante didática que o antropólogo e etnobotânico Pedro Fernandes Leite da Luz nos oferece esta instigante e muito bem desenhada Carta Psiconáutica. O livro apresenta uma grande quantidade de plantas psicoativas, explorando-as a partir de seus aspectos botânicos (ou micológicos, quando se trata de fungos), dos seus princípios ativos, seus efeitos físicos e mentais, seus usos medicinais, a história dos seus usos culturais e sua atual experimentação por parte de psiconautas. Esta variedade de informações sobre cada uma das plantas consideradas (ou outros compostos) reflete o amplo conhecimento do autor em várias áreas do saber científico, tais como história e antropologia, botânica e etnobiologia, química e etnofarmacologia. O foco final dos capítulos sobre as experiências psiconáuticas se constitui em um valioso conjunto de depoimentos atuais que nos faz refletir sobre um fenômeno muito importante: o lugar dessas plantas nas sociedades contemporâneas. Se os psiconautas de hoje estão informados pela ciência moderna, qual o lugar do misticismo em suas experiências? São essas plantas, de fato, veículos fecundos para o encontro com o divino (ou para contato com outras realidades)? Essas e muitas outras questões situadas a partir de vários setores reflexivos, no âmbito acadêmico ou espiritualista, brotarão na cabeça do leitor que se debruçar sobre as muito bem coloridas letras deste belíssimo livro.