As 177 Cartas do Brasil reunidas neste volume tratam, no estilo superior do maior prosador da língua portuguesa, de todos os acontecimentos importantes para a história do Brasil da época (século XVII), um período particularmente desafiador - e definidor - em termos geopolíticos e administrativos, ao que o grande jesuíta e diplomata que foi Antonio Vieira dedicaria seus maiores e melhores esforços – e incluem as famosas “Carta Ânua” de 1626, a carta ao bispo do Japão (conhecida como “Esperança de Portugal”) e a “Carta Apologética” (ao padre Iquazafigo). Tudo que envolve os textos de Vieira, seja nos famosos Sermões (também publicados pela Hedra), seja nestas cartas, envolve também questões de língua, de escrita e de estilo, e, no caso particular das cartas, questões próprias do gênero, da organização e do desenvolvimento dos argumentos e de seu contexto específico, tratadas com largueza e clareza na “Introdução”, a cargo do organizador, João Adolfo Hansen (professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo). “Abre esta costa do Brasil [...] uma boca ou barra de três léguas, a qual, alargando-se proporcionalmente para dentro, faz uma baía tão formosa, larga e capaz, que [...] deu nome à cidade, chamada Bahia. [...] Com a luz do dia apareceu [ali] a armada inimiga, que repartida em esquadras vinha entrando. [...]. Divisavam-se as bandeiras holandesas. [...] E foi tal a tempestade de fogo e ferro, tal o estrondo e confusão, que a muitos, principalmente aos poucos experimentados, causou perturbação e espanto, porque por uma parte os muitos relâmpagos fuzilando feriam os olhos, e com a nuvem espessa de fumo não havia quem se visse [...]; e tudo junto, de mistura com as trombetas e mais instrumentos bélicos, erra terror a muitos e confusão a todos.”