Carybé é um artista de muitas frentes, e cada uma delas revela a sensibilidade extraordinária de sua expressividade. Este livro procura revelar a produção artística das múltiplas criações de um só criador, sempre uno e sempre novo. Mas como falar desua obra sem falar de sua presença na Cidade do Salvador? Que contexto era aquele? Carybé vem de um tempo de renovação das artes plásticas na Bahia, juntamente com um grupo de artistas igualmente insatisfeitos, um grupo que buscou a ruptura com os princípios acadêmicos de criação e lutou por um espaço de renovação. Um fato importante nessa época foi a volta de Jorge Amado e Zélia Gattai para a Bahia. A casa do dois no Rio Vermelho, em suas muitas festas e reuniões, era ponto de encontropara artistas e intelectuais da terra. Lá, a arte baiana estava por todo lado, desde o portão de ferro, desenhado por Carybé, até os azulejos, do mesmo artista, trazendo o símbolo de Oxóssi. Irmãos de santo, Jorge adorava Carybé, que adorava Caymmi,que adorava Carybé. Esse Carybé, recém-chegado à Bahia, mesclou sua forte influência italiana, desde a cor ao registro de uma arquitetura imaginária, com personagens baianos. Trouxe ainda certa influência surrealista, estética que ele retoma durantetoda a suavida. Aos poucos sua obra vai se desvencilhando do jornalista, do designer e do ilustrador, ou mesclando todos os seus dotes, inclusive o do escritor. Ele não era chegado a qualquer categoria estanque. Foi um incorrigível defensor da figuração, um inquieto colorista, e sua obra alterna-se entre a pintura, o desenho e a escultura. Do homem Carybé, ficará um exemplo de vida, de abnegação, de amigo carinhoso, atento, vivo, desprendido; aquele que usava comumente uma sandália, uma camisaaberta, onde se via o colar de turquesa verde-azulado, dedicado ao seu Oxóssi.