O livro que você agora tem em mãos é a soma de aventuras vivenciadas no passado, que se materializam no presente e se lançam para o futuro do Povo de Santo. Se, por acaso, essas aventuras fossem contabilizadas, por certo seriam agrupadas na categoria matemática dos conjuntos infinitos, onde também figuram os valores, os desejos, as vontades.
São aventuras de todos aqueles que se esmeraram na manutenção desse legado. Aventuras dos que compartilharam suas histórias de vida, seus sonhos, suas frustrações, enfim, suas memórias mais antigas. Aventuras de nossos deuses e deusas, os Voduns e os Orixás - aqueles que todos os dias dançam, cantam, confraternizam-se, revivem e rememoram suas aventuras míticas através de nossas aventuras diárias na fé.
Essas memórias em forma de cânticos - os cânticos que encantaram Pierre Verger - são de todos aqueles que emprestaram a voz e as mãos para, em unísono, louvar os Voduns e os Orixás segundo a tradição do nosso canto e do nosso toque.
Agora, finalmente publicadas, constituem-se numa tentativa de aprender a epopéia de uma tradicional família de santo que adentra o século XXI mantendo a mesma dignidade dos seus ancestrais no culto às divindades africanas.
É a soma dos relatos orais de nossas agbás, de fontes documentais de arquivos públicos e jornais, de acervos fotográficos, de fontes bibliográficas, enfim, de um rosário de contas construído pela memória que se mantém viva há gerações na família do Ilê Oxumarê. É a amizade e a cumplicidade de Mãe Simplícia de Ogum e Pierre Fatumbi Verger, que nos brinda com os registros em áudio que agora acompanham a pesquisa de Ângela Lühning e de Silvanilton Encarnação da Mata - o Babá Pecê de Oxumarê.