Como nos mostra Ricardo Vélez ao longo de seu magnífico estudo, o castilhismo não corresponde a uma transposição mecânica da doutrina política de Comte. Júlio de Castilhos terminou a Faculdade de Direito de São Paulo muito jovem, em 1881, quando tinha apenas 21 anos de idade, formando seu espírito segundo os cânones positivistas. Começa na década anterior a difusão da sociologia de Comte, antes conhecido, sobretudo, como matemático na Real Academia Militar. Segundo aquela sociologia, a evolução social era determinada e previsível. Preparar o advento do estado positivo, etapa final da humanidade, seria obra de uns quantos apóstolos, mestres de uma nova Igreja, profundos conhecedores da ciência. Nessa obra, a família tem igualmente lugar de destaque, sobretudo as mulheres. O novo sistema político será uma ditadura republicana.
Da doutrina de Comte, Castilhos retirou a ideia básica de que o governo passava a ser uma questão de competência (em vez de vir de Deus, como imaginavam alguns monarcas, ou da representação, como ensinou Locke e, entre nós, Silvestre Pinheiro Ferreira e os grandes artífices do Segundo Reinado, o poder vem do Saber). Ora, se estou de posse desse saber, por que preciso passar a fase do que entre nós chamou-se de positivismo pedagógico ou ilustrado, isto é, de algo que poderia ser denominado de “educação das consciências” como etapa prévia à implantação do estado positivo? Espírito prático, dotado de grande poder de liderança, combativo, tenaz e obstinado, Castilhos decidiu-se por uma experiência original: utilizar o poder político para transformar a sociedade, ao invés de esperar pela transformação desta e só então marchar na direção do regime perfeito. Em síntese optou por exercer diretamente a tutela da sociedade.
Antônio Paim