Sobre este livroOLHOS ONÍRICOS DO REAL Romance mágico, literatura de urgência, obra perturbadora, que amplia indentidades, percorre labirintos; uma tour de force sobre a precária condição do humano, in extremis; esboço do flutuar da alma nos organismos do outro lado da vida. É o que se pode dizer de Cavalos selvagens, de Silas Corrêa Leite. Julian Barnes (The lemon table) dizia que “escrever é usar a imaginação, explorar outras vidas”. Cavalos Selvagens conta a dor crucial de um executivo em sua sedentária e exangue vida, e o confronto quase terminal (em local ermo e desprovido de recursos) com outra nova vida, pura, arrebentando viço pueril. No contexto, em louco contraste, o amor, a dor e a resistência se unem, como se somas, em favor de seu único descendente, com fluxo em ligações ancestrais, memórias inventariadas, narrativas ricas dentro do onírico, enfoque algo surreal (ou fantástico) que dá voz decodificadora ao indizível e toca o céu de todas as honras. Cavalos selvagens expõe as contingências e fragilidades da condição humana, num enredo diferenciado, otimizado por uma contação que prende o leitor até a “viagem” para dentro da alma de todas as coisas, quando a natureza humana “visita” a orquestra sagracial da casa dos espíritos, universo fantástico. Rico em significados, o livro inventaria a vã filosofia do homem pós-moderno em ruptura com o mundo em caos. Quadros cênicos, literatura fílmica. Afinal, quem são os selvagens? A imaginação enxerga a alma das coisas. Sonhar preserva a asa desejante da civilização. O que um “pai de gravata”, no emergencial papel de mãe – ou “pãe”, neologismo do roqueiro neoconcretista Arnaldo Antunes –, poderá fazer pela vida de um recém-nascido em situação gravíssima de sobrevivência a qualquer preço, custe o que custar, doa o que doer? Quem chegar ao fim da aventura terá a resposta, pois, como disse Mallarmé: “Tudo na vida existe para acabar num livro”. Antonio T. Gonçalves ——————————“O que chama a atenção no texto de Silas é