Em A doença como metáfora, Susan Sontag imagina uma experiência espacial e identitária para a compreensão da convivência da doença e da saúde. Ela afirma: “A doença é o lado sombrio da vida, uma espécie de cidadania mais onerosa. Todas as pessoas vivas têm uma dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença. Embora todos prefiramos usar somente o bom passaporte, mais cedo ou mais tarde cada um de nós será obrigado, pelo menos por um curto período, a identificar-se como cidadão do outro país”. É partir dessa reflexão que Cenas e Cenários: doença e literatura questiona os inúmeros lugares-comuns sobre a doença – quase todos bastante fóbicos – e, assim, imagina essa experiência de forma menos excêntrica e excludente. A figuração da doença na literatura será – então – uma possibilidade de repensar esse outro passaporte e sua relação com a vida. Em uma análise que parte do Romantismo, analisa discursos de inúmeras disciplinas sobre a doença e elabora as noções de cena e cenário, Franklin Alves Dassie investiga a obra de César Aira, Gonçalo M. Tavares, Paul Auster e Sebastião Uchoa Leite, mobilizando seus procedimentos ficcionais para discutir uma espécie de assepsia da modernidade e da modernidade tardia que procura a todo custo não pensar a experiência da morte, uma vez que ela é contrária aos interesses de promoção de uma eterna juventude, que tem relação direta com a lógica do consumo e do descarte, além de ser uma prática que vive em uma projeção do futuro que é uma das maneiras de não pensar a passagem do tempo, as crises do corpo e do presente.