CHAPADA DIAMANTINA

Longe do mar, para além das cumeadas litorâneas, encravada nas entranhas de
uma Bahia de texturas e luz, encontramos a Chapada de Diamantina. Falar de luz
não é por acaso, é essencial. Sob o Sol que aquece arbustos, morros, rochas e gentes: o tempo, o vento e as águas antigas moldaram o que hoje enxergamos como o nosso grande patrimônio. Só de pensar que a arte pode também ser feita pela natureza, nos alertamos sempre para o cuidado em sentir e observar a beleza do lugar, cuidado e sentimento que nem todos possuem. Foi com quem sabe o mesmo ânimo, como de um cientista na descoberta de uma vacina, que Kiko Silva, novamente nos brinda com registros únicos de um lugar que despensa grande apresentações.

Na captura de cores, texturas que variam do aveludado ou grosso esculpido pelas eras do tempo, e suavizados pelo vento, Silva registra a beleza, quase que em representação do toque do divino em sua criação, em formas tão lindas como os corpos desejados pelos artistas do Renascimento. A Arte de sentir o meio, e fazer do que é visto uma expressão de beleza, é a mesma arte de um escultor em dar a forma a um bloco de mármore. Luz, sombras, ocre e laranja, pincelados pelo verde e azul, nos mostra que a Chapada reúne todos os tons, faces, contos, lendas.

Pelas paisagens e caminhos retratados histórias circulam há séculos. Seja nos caminhar de poucos, ou no movimentar de muitos, do Escrito na Pedra, ao forjado em ferro, cunhado, minerado nas mais belas e cobiçadas pedras, nas violências das explorações e na força da resistência, a chapada é uma mistura do singular e do plural. De cidades, vilarejos e povoados, perolas em tijolos e pedras que vão do Baiano ao bizantino. É essa mistura que encontramos no belo livro de Kiko Silva, joia rara em nossa velha Bahia.

Rafael Dantas,
Professor, Historiador e artista plástico.