Nas margens de Fortaleza, lá pelos lados da Sabiaguaba, onde o manguezal se mistura às casas simples, Beatriz Furtado ouve nas conversas de uns e outros e rumor de cidades invisíveis. Cidade anônima reúne histórias que começam sempre na primeira pessoa: meu nome é Mocinha, Pedro, Rafael... e falam, de modo simples, no meio da conversa, sobre temas cruciais da existência. Ao registrar os gostos, memórias, afetos e o modo de sentir o tempo de gente como Expedito, Wagner e Fabrício, a autora recolhe inusitadas paisagens que redesenham a cidade.
Os desafios de Bigode, que tem paixão pela invenção; o cheiro bom da tapioca trazida no forro do chapéu que lembram o pai de Glória; os tempos vividos por Fátima, o do varrer a casa, comida no fogão, e o outro tempo que corre no terreiro de umbanda vão traçando novos horizontes urbanos.
Com a leveza dos bons encontros com gente como Xavier, Fátima e Raimundo, Cidade Anônima vai se revelando. Beatriz Furtado é uma observadora atenta das cidades. Autora da coletânea de ensaios Imagens eletrônicas e paisagem urbana, explora em Cidade anônima um novo registro do espaço-tempo: busca o tempo singular do vivido que freqüentemente contradiz o andamento das rápidas mudanças por que passam as cidades.