O ator e dramaturgo Francisco Correa Vasques era mestiço, de origem modesta, abolicionista, cronista e integrante das rodas boêmias do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. É acompanhando esse protagonista, que nasceu em 1839 e faleceu em1892, que a historiadora Andrea Marzano traça um panorama da atividade teatral, da vida cultural e dos conflitos presentes na cidade. Investigando o comportamento dos freqüentadores de camarotes, platéias e torrinhas, a autora rediscute a imagem elegante e aristocrática associada aos teatros em romances do século XIX, desconstruindo a idéia de uma sociedade polarizada entre senhores endinheirados e escravos despossuídos. As diferentes opções de entretenimento, que envolviam espetáculos em espaços diversos como os circos e as festas populares nas ruas, largos e praças, possibilitavam que grande parte da população carioca tivesse acesso às peças produzidas na época. E mesmo os teatros elegantes tinham ingressos mais baratos, podendo ser freqüentados por um público que não se restringia às famílias abastadas que ocupavam os camarotes.