O Tractatus, um conjunto de notas, muitas das quais sem qualquer relação com aquilo que o antecede ou com aquilo que é sua sequência, parece cercar o mundo e a linguagem de modo que restam apenas a sua identidade formal representada pelo simbolismo. Assim, a imagem lógica poderia representar pictorialmente o mundo, uma vez que, ao representar a realidade, ela representaria uma possibilidade de existência ou inexistência de estados de coisas. É justamente sobre essa posição que Wittgenstein afirmará: “A imagem representa uma situação possível no espaço lógico” (TLP, §37). De todo modo, o que está em jogo na filosofia de Wittgenstein não é apenas a dissolução de certas armadilhas gramaticais, mas a composição de um trabalho filosófico calcado sobre aquilo que mais profundamente nos desafia – a vida – esse estado de dar-se conta de que o mundo existe, de que o eu existe e de que posso ensinar a mosca a sair de certas armadilhas. Wittgenstein, portanto, estava interessado não apenas em resolver problemas filosóficos, mas em entender como a linguagem e o pensamento se relacionam com a nossa experiência cotidiana. Ao reconhecer isso, talvez, o filósofo aprenda que pensar é essencialmente dominar uma técnica, ou melhor, que “a filosofia é um combate ao encantamento do intelecto pelos meios da nossa linguagem” (IF, §109).