Este livro pretende-se uma reflexão em tomo do conceito de segredo e não um manual de criptografia ou um catálogo de aplicações. De certa forma, ele é o produto das interrogações do seu autor sobre o objecto das suas próprias pesquisas, uma tentativa de as recolocar numa perspectiva epistemológica mais global, que não se fica pêlos espectaculares avanços tecnológicos, mas que procura compreender o seu sentido apreendendo uma dinâmica que atravessa as gerações. Como pôde uma especialidade um tanto esotérica, e confinada aos universos discretos da defesa e da diplomacia, transformar radicalmente os seus métodos tradicionais para se tornar parte fundadora de uma ciência da informática, nascida na segunda metade do século XX? Como pode uma especialidade organizada em torno de uma comunidade cientifica que não tem vinte anos de idade, reivindicar uma história de mais de vinte séculos? Como pôde uma especialidade, cujo objecto - o segredo das comunicações - é na origem bastante restrito, alimentar-se das matemáticas ao ponto de ousar tomar-se, para estas últimas, numa espécie de espelho remetendo-lhes uma nova imagem da noção de prova? Estas questões podem parecer bastantes imodestas e sem relação com o conjunto dos trabalhos e dos resultados acumulados por todas as ciências, no decurso dos séculos. Nesta perspectiva, a criptografia parece não ser senão um inventário de técnicas destinadas a assegurar que nos sintamos em perfeita segurança no nosso espaço privado. Poderíamos contrapor-lhe o ponto de vista inverso, segundo o qual a criptologia constitui uma forma de paradigma para todas as outras ciências, não sendo o mundo senão uma vasta mensagem cifrada de que os científicos procuram penetrar o sentido.