Cinema Tricontinental de Glauber Rocha analisa os filmes menos conhecidos e mais enigmáticos do nosso maior cineasta: O Leão de sete cabeças, Cabeças cortadas, História do Brasil e Claro, lançados entre 1969 e 1975, nas condições adversas de um prolongado exílio entre Cuba, França e Itália.
A atuação internacional de Glauber, delineada pela realização dos filmes, a publicação de inúmeros artigos e entrevistas em revistas europeias e latino-americanas e a participação em diversos festivais e congressos de cinema, ampliou significativamente o raio de ação do cineasta que já era, em fins dos anos 1960, a liderança inconstestável do Cinema Novo. Estas formas de ação consolidaram suas idéias e anseios, bem como explicitaram os impasses às suas expectativas diante da interlocução com cineastas e produtores de diversos países.
A partir da análise das obras do exílio, Maurício Cardoso revela o ousado projeto estético e político de Glauber de um Cinema Tricontinental que pretendia integrar as cinematografias dos países subdesenvolvidos da América Latina, África e Ásia em nome da libertação do domínio econômico e cultural do imperialismo. Segundo o Autor, o Cinema Tricontinental fez convergir um programa político de unidade do Terceiro Mundo, uma criação estética pautada na incorporação da religiosidade popular e uma perspectiva de revolução social utópica e redentora.
Este livro, dotado de um exemplar exercício de método, apreende com rigor as significações produzidas pela análise fílmica que reverberam sobre o entendimento dos processos históricos. Baseado nos trabalhos de Ismail Xavier, o Autor reconhece nos filmes, determinadas formas estéticas que sedimentam a matéria social, conduzindo a investigação pela teia complexa entre a interpretação das fontes de pesquisa e o entendimento sobre a formação social do país.
Os apontamentos sobre imperialismo, subdesenvolvimento, cinema nacional e outras categorias supostamente defasadas pela onda neoliberal e desmonte do país, re