O objetivo deste estudo foi a compreensão do funcionamento da cognição num ambiente de alta densidade tecnológica. Como os operadores de uma sala de controle de uma hidroelétrica constroem o conhecimento específico que permite atuarem nas diferentes situações com que se defrontam? Este livro é um estudo exploratório, que por meio do uso da abordagem etnográfica buscou responder à questão levantada. Focalizou-se especialmente os processos de interação e negociação, ou seja, as trocas comunicativas, o papel dos artefatos mediadores e das regras que organizam a atividade. O universo da pesquisa compreendeu os operadores da sala de controle de uma hidroelétrica, na qual foram feitas observações e entrevistas com os diferentes grupos de trabalho envolvidos na atividade, re alizando o mesmo tipo de tarefa. O trabalho realizado nesse ambiente é bem mais complexo do que se poderia supor. É um imenso iceberg, do qual apenas uma pequena parte é visualizada, em contraste com uma massa muito grande de conhecimentos e interrelações que, apesar de quase nunca explicitados, são constantemente utilizados e constituem o cerne de toda a atividade em estudo. As análises realizadas levaram às seguintes conclusões: 1. Os conhecimentos são construídos, atualizados e ajustados através das trocas comunicativas, dentro das situações com as quais os sujeitos se deparam, por necessidade de resolvê-las. Como esse conhecimento é construído no decorrer da atividade, é explicável que parte considerável dele não possa ser adquirido em outro contexto; 2. Mesmo que as especificidades do trabalho pudessem ser aprendidas fora dele, as int erações próprias do trabalho cooperativo só poderiam ser aprendidas nele, porque os significados são construídos na e pela interação; 3. Todas as atividades colaborativas necessitam de interação e negociação para a construção de soluções para problemas emergentes. Para isso, é fundamental uma representação partilhada da situação; 4. Mesmo em sistemas controlados por regras muito restritivas da ação, sempre haverá espaço para improvisações, dada a impossibilidade de se contemplar todas as circunstâncias possíveis; 5. Em atividades especializadas, nas quais precisão e clareza na comunicação são indispensáveis, todo um aparato semiológico precisa ser construído para garantir essa precisão. E é justamente isso que será demonstrado neste livro.