Coisas de casa amalgama uma aparente ilimitação semântica de coisas e uma suposta particularidade de casa. Mas também favorece o sentido contrário: Casa de coisas. O livro faz isso por meio de um procedimento por camadas não hierárquicas, como sutilmente seu subtítulo sugere (de peles e de escamas), de modo que a interpretação e a fruição da construção literária/poética convidam o leitor a um movimento horizontal de apreensão do plano do conteúdo da obra pari passu a uma imersão vertical em seu plano de expressão. É, nesse sentido, como grande arte que é, um construto planejado cuja indagação sobre suas intencionalidades compõe o corpo de sua estruturação. O termo de casa, a esse olhar, é um caleidoscópio de entendimentos. Significa muito, como o doméstico, o íntimo e o particular em suas mais diversas formas de manifestação, seja na miríade de locus em que pensamento e sentimento podem se manifestar, seja no espaço concreto do existir onde o ser estabelece relações e tensões. Para ficar em poucos exemplos. O ponto de convergência entre todas, no entanto, é fazer o leitor sentir esse enigmático invólucro que a tudo envolve (de modo especial a linguagem) e que se manifesta ora sensível como a delicadeza da pele, ora resistente como a rijeza da escama.