Ao ler o relato de Marcelo Rocha sobre sua experiência em uma clínica de recuperação de adictos, a primeira palavra que me veio à cabeça foi “coragem”. Marcelo teve coragem por expor sua própria dependência, por escancarar a realidade da clínica e por descrever em detalhes as histórias de outros adictos, pessoas que perdem, em algum momento, o controle de suas vidas em razão da dependência química. E, ao procurar o significado de coragem, descobri que uma das acepções da palavra é a “qualidade de quem tem grandeza de alma, nobreza de caráter”. Para quanta grandeza de alma me remete essa leitura, por entender como deve ter sido complicado para um homem expor assim as suas fraquezas. Ao mesmo tempo em que deve ter sido difícil relatar seu avesso, como pode ter sido libertador! Marcelo também teve nobreza de caráter ao relatar com respeito as histórias dos internos. Quantos dos personagens citados e tantos outros seres humanos estão neste exato momento nessas clínicas na tentativa de ficarem "limpos", passando por situações de medo, de dor, de angústia, de solidão. Afinal, a dependência química permeia a vida de milhões de pessoas, de todas as idades, escolaridades e classes sociais. E essa leitura clara, simples, direta e objetiva pode ajudar cada um de nós a entender melhor as dificuldaes de se lidar com essa doença que, além de atingir o corpo, fere a alma.