Vivemos em uma sociedade em que o pensar-agir-sentir da heterossexualidade é deslocado do contexto de sua construção histórica, social e política, como se fosse uma vivência natural e normativa. Com o processo de intrusão das Américas, vivências não heterossexuais existentes na região foram por meio das colonialidades do poder, ser e saber consideradas crime, pecado e doença, respectivamente. Coberta pelo silêncio ensurdecedor, a violência nos relacionamentos lésbicos carrega em si as marcas da colonialidade da sexualidade, da lesbofobia social e interiorizada. E o silêncio, como nos ensina Audre Lorde, há de ser transformado em linguagem e ação.
Este livro se propõe a analisar as implicações de episódios de violência com os processos imbricados da heterossexualidade compulsória na lesbofobia social do modelo amatório baseado no ideal de amor romântico e do pensamento hétero na lesbofobia internalizada. A partir das legislações, da bibliografia e de produções artísticas e de movimentos sociais produzidas na América Latina e Caribe, analisam-se conceitos, tipologias e manifestações dessas violências.
Por meio da metodologia colaborativa, foi realizada uma pesquisa de encontro com quatro organizações lesbofeministas em Bogotá, Brasília e Cidade do México e com nove participantes lésbicas entrevistadas nas três cidades. Foram muitos os encontros para que essas palavras alcançassem o papel. Foram muitos os diálogos, as partilhas, as linhas e os retalhos para tecer esta rede em anos de colaboração, projetos e sonhos compartilhados. Adaptado de uma tese de doutorado, este é um livro-convite para a descolonização dos afetos.
Autora: Cláudia Macedo