Um livro de poemas que, ao longo de vinte anos, fui escrevendo, para falar sobre os dois lutos distintos que atingiram a minha vida num curto espaço de tempo – o do pai dos meus filhos mais velhos e o do meu próprio pai. Lutos tardios e difíceis, que foram feitos na mais completa solidão e muitas vezes às escondidas, para não perturbar os outros com a minha dor e que, precisamente por causa disso, levaram mais tempo a serem ultrapassados; lutos que acabaram por se tornar transformadores pois, passada a fase de devastação inicial, ajudaram-me a rever valores, redefinir prioridades e a dar um novo significado à vida.
O título “Com S se escreve Saudade – quando o luto se transforma em poesia” tem a virtualidade de expressar com clareza a viragem psicológica e emocional que eu tive a oportunidade de fazer e o objectivo que, com ela, me propus alcançar – transformar as dores do meu luto num livro de poesia e, através dele, conseguir criar um espaço de comunhão fraterna, onde todos os que estão a passar pela mesma situação se possam rever em cada palavra, frase e estrofe que foram escritas e em cada tema ou sentimento que foi poeticamente abordado. Porque a dor da perda de um ente-querido
é, em si mesma, universal.
Agradeço à língua portuguesa, que é a única no mundo que tem a palavra saudade no seu léxico, por permitir que ela seja usada de muitas e variadas maneiras – de forma triste e dolorosa e de forma boa e gostosa, dependendo das situações. Neste livro de poesia ela aparece amiúde, grávida de alguns “nunca mais” da vida - das pessoas que eu amei e já partiram, das situações ou circunstâncias difíceis por que eu passei e me marcaram, das coisas que eu nunca vivi e hoje sinto falta, das coisas que tive e acabei recuperar.