Comenius (1592-1670) foi uma testemunha capital do seu tempo e um precursor das Luzes. Na sequência da entronização de Fernando II e da reconquista católica dos Estados checos que lhe sucedeu, Comenius foi proscrito como todos os reformados investidos de um cargo oficial ou de um ministério religioso. Morreu em Haia, após ter assistido, impotente, à aglutinação do seu país pelo império dos Habsburgo. Último bispo dos irmãos morávios, movimento criado pelos hussitas, Comenius é hoje reconhecido como o inventor da ciência pedagógica. A sua contribuição para a história não cessa aí como testemunha a fecundidade, do género e do estilo, dos seus escritos; ela é parte da obra de um grande teólogo humanista que considerava a renovação do sistema educativo como parte de uma empresa mais vasta: a reforma universal dos assuntos do homem neste mundo. A educação era, para Comenius, a melhor via para levar o homem à razão, à verdade, para o fazer sair do obscurantismo e do ódio que, então, assolava a Europa. Como Jan Huss, seu ilustre compatriota, Comenius esforçou-se em promover a língua checa como língua de instrução num momento em que a língua latina, a da erudição, era hegemónica, e preconizava a igualdade de todos os homens face à educação. Para este sábio, cada ser humano deveria alimentar a responsabilidade e o dever de dar, ao seu semelhante, a melhor educação. Para Comenius, filósofo e praticante da pedagogia, a formação é permanente, a escola da vida e a educação no sentido estrito não devem ser separadas, nem tão-pouco as actividades manuais e intelectuais. Esta profunda concepção determina a orientação que ele pretendia dar ao conteúdo dos seus ensinamentos. Com grande erudição histórica, Olivier Cauly, dá luz aos laços entre religião, nacionalismo e educação. Bem escrito e bastante analítico, o seu livro descreve uma figura de excepção, pouco conhecida, um homem a quem Michelet chamava O Galileu da Educação.