Ele poderia ser apenas mais um rapaz latino-americano de classe média, com família e emprego estável, se desde pequeno não fosse obcecado pela ideia de se Tornar um Escritor Cult. Não é tarefa fácil ou pelo menos não tão Simples quanto virar um best-seller ou um autor sério, reconhecido pela crítica. Para conquistar o estatuto de Cult é necessário uma complexa combinação que envolve uso de pseudônimos, publicações raras, rebeldia em relação às convenções literárias e sociais, anonimato além da genialidade, claro. Nada que demovesse nosso aspirante a Escritor Cult. Com ajuda de amigos da Oficina Literária da Universidade, ele elabora um plano minucioso que inclui leitura comparativa de grandes nomes da literatura e a escrita de obras que replicassem, com algumas variações decisivas, os estilos analisados. Nosso herói vira noites tentando escrever Como os antigos gregos, imitando Dante, Kafka, os russos, desfiando longas descrições proustianas, mesclando o português ao guarani de Forma joyceana. Inspirado pelos beats, abandona tudo e parte em direção à estrada, numa busca ávida por experiências intensas para serem transpassadas para as páginas de seu caderninho verde. Percorre cidades, bares, quartos, conhece escritores, vive aventuras e encontros inusitados dos quais ficamos sabendo através de suas anotações, correspondência e pelas poucas pistas reunidas pelo crítico literário Esteban Grüner. Em Como se Tornar um Escritor Cult de Forma Rápida e Simples, Rafael Gutiérrez retrata os percalços de um aspirante a Escritor numa trama surpreendente que desvenda, com perspicácia e ironia, as superficialidades e artificialidades do meio crítico e literário. Num exímio exercício de metaficção, disseca e expõe os meandros da composição literária, com uma escrita fluida que captura o leitor da primeira à última linha.