A Conferência Sobre Ética é o único texto escrito por Wittgenstein preparado para ser lido a uma audiência. Em toda a sua vasta obra Wittgenstein escreveu muito pouco sobre ética e, no seu único livro publicado em vida, o Tratado Lógico-Filosófico, são escassas as proposições dedicadas ao tema. É provavelmente nos diários, quer os de 1914-16, quer de 1931-37, que se podem encontrar reflexões sobre ética, mas com uma forma não sistemática e frequentemente intimista. O presente texto é importante a vários títulos, desde logo porque revela um Wittgenstein ocupado com uma temática que lhe merece a maior consideração, mas que não faz parte do núcleo de problemas filosóficos que caracteriza a sua obra. Na verdade, a filosofia crítica da linguagem possui, nos seus próprios termos, um objetivo terapêutico relativamente aos problemas sem solução da filosofia. É numa nova conceção do uso multiforme da linguagem que assenta em grande parte esse objetivo que tanto influenciou a história da filosofia, desde a segunda metade do século passado até aos nossos dias. A Conferência Sobre Ética insere-se nesse propósito e apresenta uma nova imagem da relação do homem com os problemas da ética que o filósofo descreve como um permanente “correr contra os limites da linguagem”.