“Eu nasci veneziano, em 15 de outubro de 1775, dia do evangelista são Lucas, morrerei pela graça de Deus italiano, quando quiser aquela Providencia que governa misteriosamente o mundo”
Assim, Ippolito Nievo inicia seu grande romance escrito entre dezembro de 1857 e agosto de 1858, mas publicado póstumo em 1867. As confissões d’um italiano narram, por meio da sensibilidade e da consciência do protagonista, Carlino Altoviti, o difícil processo da unificação italiana e o fim da república de Veneza em 1856. Nievo tinha apenas 29 anos ao escrever a obra, e ao relatar as memórias de um homem de 83 anos se apoia nos acontecimentos históricos e nas lembranças do avó, Carlo Marin, com quem convivera na infância e juventude De um lado, estão todos os ingredientes do romance histórico um castelo, uma guerra, os acontecimentos confusos do nascimento de uma nação, um jovem sedento de aventura, uma historia de amor. De outro, a narrativa viva de quem está entre os acontecimentos finais que levarão a unificação da Itália em 1861. Ao mesmo tempo em que Nievo tece esse fascinante jogo memorialista entre “passado do futuro” e “futuro do passado”, que de alguma forma representa o “tempo presente”, ele alinhava uma trama fictícia que conduz o romance, na qual a história dos encontros e desencontros entre Carlino e sua amada prima Pisana desenvolve, também historicamente, as relações sociais e os usos e costumes da época. O romance histórico, memorialista, autobiográfico ganha então uma nova faceta, a do romance de formação, uma vez que percorre todo o arco da vida dos personagens, sempre inseridos na perspectiva histórica.