No atual mundo globalizado a violência é estrutural e ligada às demandas da sociedade que permanecem desassistidas. O Brasil é um dos países com os mais elevados indicadores de violência, alimentados pela crônica desigualdade socioeconômica que nosso modelo político teima em reproduzir e aprofundar. A violência contra a mulher ocupa lugar de destaque nesse quadro. Ainda durante o século XVIII, na Europa, em linha com os valores e discursos filosóficos da época, exaltou-se a vocação da mulher para a maternidade, engendrando-se o amor maternal incondicional como verdadeiro mito fundador da ideologia na ordem econômica burguesa dos começos do capitalismo. A ideia de um corpo paradigmático se ampara num dualismo anatômico fisiológico em que se desvelarão aspectos éticos, morais, psicológicos e socioculturais. A transição do parto caseiro para o parto hospitalar inaugura a fase das políticas públicas protetivas da maternidade e da infância. Uma consequência, no entanto, foi afastar a participação feminina, impedindo seu protagonismo no nascimento e contribuindo para que hoje ostentemos os maiores índices do mundo de cesarianas desnecessárias. A mulher moderna ganhou muito em autonomia. Libertou-se de amarras de natureza moral, social e legal, contudo é e continuará sendo ela a dona do corpo biológico capaz de gerar uma nova vida e garantir a preservação da espécie humana. Urge, portanto, que se promova no país a humanização do parto e da saúde materno infantil em consonância com organismos internacionais de referência na área, como defende e comprova a autora ao curso de sua dissertação.