'Conspiração de nuvens' é uma seleção de textos leves, mesmo quando evocam os anos de chumbo (rememorados na crônica que dá título ao livro), ou o dia da morte de um ente querido, o caso de Solo de clarineta, que soa como um réquiem a Érico Veríssimo. Sim, 'Conspiração de nuvens' é um livro de casos, historinhas, testemunhos, lembranças - de situações vividas em diferentes épocas, da infância à maturidade; da cidade de Tunis, 'feminina na disposição do casario arredondado, sem arestas, com aquelas ambigüidades e mistérios do segundo sexo', descrição que faz ouvir ao fundo o trompete de Dizzy Gillespie tocando Night in Tunísia; de personalidades memoráveis, como Paulo Emilio Salles Gomes, o escritor e crítico de cinema com quem Lygia foi casada, e o seu pai, a lhe enfiar no dedo um anel de charuto, no dia em que ela se formou em advocacia. E mais e mais: a começar pela menina que ouve da mãe a história de Elvira, a morta virgem, enquanto descobre o significado de palavras como virgindade, preconceito, intolerância. A mesma menina que ao chegar a uma praia do litoral de São Paulo, chamada Itanhaém, se encanta com o seu sentido na língua Tupi: pedra que chora.