As trajetórias percorridas pelos indivíduos, no ato de consumir, revelam várias armadilhas e também muitas descobertas. Este livro é um começo de conversa para se identificar algumas delas. Seu foco principal é a relação entre identidade e consumo, como um universo cada vez mais complexo e extremamente privilegiado para se compreender o modo de ser humano nas sociedades contemporâneas. O indivíduo, principalmente nas grandes metrópoles vive no fio da navalha, entre a segurança e o perigo, e o consumo, ao mesmo tempo em que serve para aliviar as tensões, oferecendo rotas para uma vida programada, anuncia possibilidades desconhecidas de realização e de prazer, como por exemplo, na prática de esportes radicais ou nas experiências de autoconhecimento proporcionadas por diferentes modalidades de ecoturismo. Desse modo, os hábitos de consumo se revelam como uma busca individual e coletiva pelas referências locais de inserção política, econômica e social, e pelas aspirações ensejadas pelos meios de comunicação de massa. Mais do que o simples ato de comprar, o consumo é apresentado como uma forma de interação, uma apropriação individual que insere cada pessoa no todo do tecido social, levando o tratamento do tema à necessidade do trânsito por diversos campos do conhecimento: antropologia, sociologia, psicologia, psicanálise, linguagem, semiótica, história, e economia. Este livro se contrapõe às análises monolíticas da sociedade de consumo vista predominantemente sob o ângulo da dominação, subjugação ou manipulação dos indivíduos, caracterizando-a como um espaço de liberdade onde transita o desejo móvel e movente. O aspecto articulador do consumo se traduz em narrativas alegóricas que revelam o olhar desviante do indivíduo no acesso de sua subjetividade, constituindo-se por essa mesma razão, em uma das chaves mais interessantes para se percebê-la e compreendê-la. Os indícios e os rastros da trama construída pelos indivíduos no ato de consumir podem ser percebidos nas interconexões entre a imagem, o imaginado e o imaginário identificadas na linguagem das mídias e das tecno-logias de comunicação, especialmente aquelas da Internet. As trajetórias do consumo se confundem com os itinerários da subjetividade e para desvendá-las ou conhecê-las minimamente é preciso reconhecer no seu percurso as micro-revoluções, ou revoluções moleculares, de que nos falava Felix Guattari, e assim podermos perceber as escolhas não como uma rendição total ao modo de ser costumeiro das coisas, mas num nível próximo da superação das conturbações diárias pela formulação de opções de vida que, mais do que atravessada por hábitos, são direcio-nadas principalmente por uma relação intensa entre a ordem estabelecida e a possibilidade de uma nova ordem.