Em 1995, o escritor Sergio Faraco, autor de livros como Idolatria (1970), Hombre (1978) e Noite de matar um homem (1986), considerado um dos melhores contistas brasileiros vivos, decidiu abandonar a literatura. O resultado foi a primeira edição de Contos completos, publicada no mesmo ano. A decisão, felizmente, foi revertida, e em 2000 Faraco lançou Rondas de escárnio e loucura, com sete contos inéditos, além de um material reescrito e revisado. Quase dez anos após a primeira edição de Contos completos, chega agora às livrarias uma nova edição, revista pela autor e atualizada, contendo também os sete contos publicados em Rondas de escárnio e dois novos contos inéditos. A organização do volume é temática, não cronológica: os contos da primeira parte se passam na região fronteiriça (de onde vem o autor, nascido em Alegrete, RS), na qual os sentimentos de solidariedade e solidão humana são ressaltados pelo ambiente e pela paisagem parados no tempo, como um mundo à beira da destruição. A segunda parte reúne contos sobre a visão infantil da vida, em que os protagonistas são, no geral, meninos que experimentam o processo de crescimento (e, muitas vezes, do desabrochar da sexualidade) como um processo de perda irreversível. A terceira e última parte mostra personagens perdidos na cidade grande, onde a solidão permanece e se intensifica. Entretanto, a riqueza do universo ficcional de Faraco não pode ser reduzida a essa tipologia. O esmero do artesão tão econômico quanto rigoroso com as palavras, a capacidade de apresentar personagens com um grau de densidade psicológica inversamente proporcional à secura do ambiente e à parcimônia de linguagem, e a maestria de propor enredos que, muito ao contrário de regionais, atingem questões universais do ser humano fazem de cada conto do autor uma pérola única da literatura brasileira.