APRESENTAçãO Do "nunca antes" ao finalmente depois... Against the tide e minority report são duas conhecidas expressões em inglês que podem representar o espírito com o qual foram escritos a maior parte dos ensaios aqui reunidos, compilando esforços de leitura, de reflexão e de redação que empreendi entre os anos de 2014 e 2018, não por acaso dois períodos eleitorais decisivos na história política recente do Brasil, o primeiro por representar o ponto culminante do regime lulopetista vencedor em quatro eleições presidenciais sucessivas, mas também a sua agonia e queda final, em 2016, o segundo por evidenciar a vontade da sociedade brasileira de dar um basta ao festival de corrupção sistêmica a que assistimos desde o início daquele regime. "Contra a corrente" e "relatório de minoria" podem, efetivamente, caracterizar minha atitude básica na análise e produção de ensaios ao longo desse período, mas não só ele, pois tenho mantido a mesma atitude – que chamo de ceticismo sadio – ao longo de uma vida toda ela dedicada ao estudo dos problemas brasileiros, ao exame das melhores soluções de políticas públicas a esses problemas, especialmente na área de atividade que é a minha desde 1977, as relações internacionais do Brasil, sua política externa, o exercício prático da diplomacia, mas sempre combinada a uma reflexão crítica que sustenta, justamente, a atitude que mantenho, e que pode ser resumida nessas duas expressões. Os textos aqui reunidos podem, portanto, enquadrar-se numa das duas categorias acima descritas, ou em ambas, simultaneamente, justificando-se, portanto, o uso do conceito de "contrarianismo", que pode também identificar alguns traços de minha atitude em face de questões relevantes do país, mas em relação aos quais mantenho uma postura que não se enquadra na corrente geral. Esses ensaios foram preparados marginalmente à minha agenda habitual de trabalho, que em geral compõe-se unicamente de escritos que eu mesmo escolho deliberadamente empreender. Normalmente, consistem em ensaios acadêmicos, pesquisas históricas, ou sínteses de leituras e reflexões sobre os temas que me ocupam tradicionalmente: desenvolvimento econômico do Brasil, história diplomática, política internacional e assuntos afins, ademais de resenhas de livros, muitas resenhas. Em certos momentos, esses ensaios podem situar-se em etapas decisivas da conjuntura política, como são os períodos eleitorais, quando campanhas presidenciais nos colocam em face de escolhas relevantes para o futuro da nação, sobre as quais eu nunca deixei de refletir, e de ponderar minhas opções, justamente com essa atitude que já descrevi como sendo constituída basicamente de ceticismo sadio, e que se reflete em textos que geralmente vão no sentido contrário ao da maioria da opinião – inclusive na instituição a que pertenço – e que podem também serem enfeixados nessa segunda categoria, a dos relatórios de minoria. Dividi a presente coletânea em duas partes bem caracterizadas. A primeira compõe-se de ensaios sobre diferentes temas da diplomacia brasileira redigidos no período final do regime lulopetista. Elas não visavam examinar tão simplesmente a diplomacia brasileira, nos seus aspectos gerais, pois a intenção era a de discorrer sobre "problemas" da diplomacia brasileira, criados pelo governo do Partido dos Trabalhadores (PT) desde 2003, e que ameaçavam se prolongar por um período indefinido, em caso da vitória do PT nas eleições daquele ano, o que efetivamente se confirmou, da pior forma possível, com as consequências que todos sabemos. Logo em seguida tivemos a crise terminal do lulopetismo e o ingresso numa fase de transição que talvez ainda não tenha terminado. Esta é justamente a segunda parte desta compilação de escritos, muitos deles compostos no período mais recente, refletindo a campanha presidencial de 2018, durante a qual não exerci nenhum papel relevante, para nenhum dos candidatos em liça, mas no decorrer do qual não me eximi de redigir algumas notas refletindo meu pensamento sobre alguns dos temas que valorizo sobremaneira, desde minha formação inicial em problemas do desenvolvimento brasileiro e de sua inserção internacional. Entre uma e outra etapa, se situa uma espécie de "intermezzo" contrarianista, com a produção de alguns ensaios reveladores do que eu pensava sobre a crise terminal do lulopetismo e os desafios para o Brasil; algumas referências a esses escritos figuram no apêndice, no qual informo alguns dados pessoais e relaciono leituras adicionais. Devo desde já registrar que, durante todo o decorrer do regime lulopetista – ou seja, de 2003 a 2016 –, eu não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), tendo sido "condenado", desde o início desse regime, a uma longa travessia do deserto, que só veio a termo com o impeachment de meados de 2016, quando finalmente fui convidado para o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandr