Contra Sainte-Beuve, publicado postumamente em 1954, começou por ser um artigo de Proust para o jornal francês Le Figaro, no final do Outono de 1908. Seis meses mais tarde, o pequeno artigo dera lugar a um ensaio de aproximadamente trezentas páginas. A edição de Contre Sainte-Beuve que agora se publica segue a organização de Bernard de Fallois, que reúne os ensaios dedicados ao método do crítico literário francês Charles Augustin Sainte-Beuve (1804–1869). Neles Proust discorre sobre Baudelaire, Flaubert, Balzac e Nerval, e esboça temas que serão desenvolvidos no romance Em Busca do Tempo Perdido, como o conhecido episódio da madalena (aqui, um pedaço de pão torrado), ou os capítulos «Sonos», «Quartos» e «Dias». À ideia de Sainte-Beuve de que o conhecimento da biografia de um autor é fundamental para a explicação da obra, Proust contrapõe a teoria de que uma obra de arte literária é «o produto de um eu diferente daquele que manifestamos nos nossos hábitos, na sociedade, nos nossos vícios». Proust desenvolve ainda as suas ideias acerca da superioridade da sensação sobre a inteligência, do poder da memória para alcançar uma verdade artística individual e do papel deletério do hábito na percepção. O livro toma por vezes a forma de uma conversa com a mãe, tendo, outras vezes, um estilo marcadamente ensaístico, constituindo assim uma espécie de oficina de escrita um dos maiores romancistas do século XX.