O grupo acabou e eu não tenho forma de o recuperar'. Foi com esta frase curta e gelada que Ricardo Salgado abriu os olhos dos representantes de cinco ramos da família Espírito Santo, a qual estava a poucos dias de ficar sem o banco e sem o grupo empresarial. O encontro parecia uma cerimónia fúnebre: já havia contas congeladas e faltava dinheiro para pagar viagens, salários, advogados. A derrocada iniciara-se em novembro de 2013, mês em que as reuniões do Conselho Superior do GES começaram a ser gravadas com o consentimento de todos os seus participantes. Foi num destes encontros que Ricardo Salgado tentou empurrar José Maria Ricciardi para fora da comissão executiva do BES - Ricciardi afrontou diretamente Salgado, ameaçando revelar publicamente as razões por que não lhe dera um voto de confiança. Mas o duelo entre os primos, que aqui se conta na íntegra com a transcrição de todas as suas conversas, é apenas uma ínfima parte da história que nos é contada pela jornalista Sílvia Caneco. Descoberto o buraco de 1300 milhões de euros nas contas de uma das holdings, o cerco começou a apertar-se. O relato dos últimos dias revela as imposições e as cedências do Banco de Portugal, os telefonemas crispados entre Salgado e o vice-governador e os múltiplos planos que o líder do BES tentou executar para salvar o grupo - e que passaram por venezuelanos, empresários de futebol, Passos Coelho, Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Carlos Moedas e Durão Barroso. Estamos rodeados de aldrabões é apenas uma das frases-chave de Salgado nestas conversas de família em que se confessaram contornos sobre o famigerado negócio dos submarinos, sobre a comissão do construtor civil José Guilherme ou sobre a garantia de Angola ao BESA. Esta é a história de uma família destruída e destituída de segredos, contada pelas vozes dos próprios membros do clã Espírito Santo.