Estranhezas e corpos crip emergem por toda parte e não apenas em redutos distantes
e exóticos. Eles estão na nossa casa, na vizinhança, nas histórias cotidianas, nos sonhos e, não raramente,
fazem parte de nós. Mais do que abjetos sociais paralisantes, corpos crip movimentam novas perspectivas
e estão sempre nos surpreendendo. Para introduzir a vasta bibliografia em torno das cripistemologias, escolhi focar em. estudos publicados a partir dos anos 2000, buscando uma noção expandida de vida e inteligência. Além dos
depoimentos pessoais, há um questionamento do antropocentrismo que ajuda a pensar a constituição de si como uma operação anárquica. O que me interessa é perceber como se dá a instauração de diferentes modos de existir a partir de circunstâncias fora dos padrões. Trata-se de uma lógica de reinvenção que testa desidentidades e despossessões como manifestos micropolíticos sem nenhuma expectativa ou desejo de sucesso neoliberal.
Para levar adiante essa pesquisa tem sido importante dançar com alguns fantasmas. São espectros de
gestos, imagens e narrativas, vivas e mortas, que insistem em desafiar certezas. Mas também é bom lembrar das vidas absolutamente comuns que, aos poucos, vão erodindo barreiras e abismos, abrindo caminhos para
decantar os movimentos e garantir que ainda vale a pena acreditar.