Para um autor iniciante, o Prêmio Sesc de Literatura é a realização de todos os sonhos: prestígio, reconhecimento de seu talento por autores e críticos experientes, publicação por uma grande editora, divulgação em todo o Brasil. O que mais alguém que está dando seus primeiros passos na carreira literária poderia querer?Para o leitor, também é a chance de descobrir um escritor totalmente novo. E, livre da obrigação de ter de gostar de um livro só porque algum famoso o escreveu, admirar o que tem de singular. Ser um dos primeiros a perceber o ineditismo do estilo de um autor e a contemporaneidade das questões que levanta.Isso vale especialmente para Correio Litorâneo, vencedor na categoria contos do Prêmio Sesc de Literatura de 2006. Caro leitor, guarde o nome de Nereu Afonso da Silva. Você certamente vai ouvir falar dele no futuro e se vangloriar de ter lido seu primeiro livro.Até porque poucos autores começam com uma coletânea de contos assim, tão madura, enxuta, elaborada. Apesar de abordarem os mais diferentes universos, suas histórias estão amarradas em torno de notícias de jornal, o que lhes dá uma rara unidade temática. No caso, um jornal fictício, com o mesmo nome do livro.Mas os contos de Correio Litorâneo ultrapassam em muito qualquer reportagem do Correio Litorâneo jornal. Em forma e conteúdo. Quer um exemplo? O pequeno obituário é apenas a ponta de um imenso iceberg: a história que abre o livro, sobre Úngaro dos Passos, um ladrão que arregimentava não cúmplices, mas fiéis.Em outro conto, os sonhos de uma noite de amor de um casal que acaba de se conhecer são subitamente interrompidos. Mas engana-se quem imagina encontrar narrativas violentas nesta obra só porque ela simula um gancho com o real. Até a violência, quando existe, é narrada sem tintas fortes, com poesia e delicadeza. O que já faz uma grande diferença nos dias de hoje.