Para analisar a complexa realidade das organizações criminosas no país precisamos, com urgência, de quadros analíticos rigorosos que nos façam avançar para além de lugares comuns que colocam o criminoso ora como vítima passiva de uma sociedade desigual, ora como portador de toda vilania. É precisamente este o empreendimento da autora e, para nossa sorte, ela obteve sucesso. Seu recorte incisivo: a radiografia do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho. A modelagem conceitual por ela realizada dessas duas organizações clarifica aspectos fundamentais do crime organizado no país, fornecendo os fundamentos de investigações futuras, às quais a autora já se dedica em sua pesquisa. Em síntese, esta obra nos ajuda a enxergar melhor a nossa exceção cotidiana, só podemos agradecer à autora por ter compartilhado suas lentes conosco.Tendo como referencial teórico as tipologias produzidas pela sociologia militar nas obras dos autores Charles Moskos, John Allen William e David Segal, a autora se propõe a verificar o funcionamento de estruturas de organizações criminosas sul-americanas cuja principal atuação é o tráfico de drogas. Ao fazer essa opção analítica, seu olhar detém-se sobre o status da América do Sul na divisão internacional do trabalho ilícito, e para as particularidades que envolvem a lógica do crime neste espaço e seu impacto na sociedade como todo. A multiplicidade de experiências do universo do crime questiona a forma como costumamos olhar para esse fenômeno. Há uma narrativa já estabelecida, principalmente quando se trata das drogas, e essa narrativa passa por, necessariamente, identificar inimigos em categorias fechadas, colocando a juventude que atua no tráfico no mesmo patamar de ameaça que um grande atacadista. Que coloca cartéis, clãs familiares, comandos e máfias como atores com objetivos únicos, violentos e estéreis, não passíveis de uma ideologia ou da capacidade de reação as idiossincrasias de suas sociedades. Não olhar para esses grupos com